É a pele macia, De seda que não sacia. São as marcas que a tornam ela, As sardas que a tornam bela. É o cabelo brilhante, São as flores em molhos, É o verde verdejante Que lhe preenche os olhos. São as joias com que se enfeita, O rodopio do seu vestido, A dança, no espelho, imperfeita E o seu corpo despido. São os lábios de cereja, Os laços que lhe reúnem as madeixas Numa primavera rica em ameixas. Ela faz o que a sua alma deseja.
Ser mulher
É pôr corações nos pontos dos is, É espalhar blush no nariz,
É partilhar batons e purpurinas
Das cores mais picantes e vivas.
É partilhar histórias de vida.
É guardar cartas nervosas,
Fazer listas aos milhares;
É elogiar outras mulheres charmosas,
Ou apenas sorrir quando se cruzam os olhares.
É protegermos a irmandade E estarmos ligadas à lua. É falar de feminismo a qualquer idade.
É fazer arte só sua. É reparar em capicuas, Mas julgar as suas curvas nuas. É chorar para o espelho, Borrando o batom vermelho.
Ser mulher
É ser perseguida.
É sentir empatia pelo agressor.
É culparmo-nos de seguida.
É querermos abraçar a nossa criança interior.
É sermos validadas só pela beleza
E permitir que sejamos interrompidas.
É ser vista como uma presa.
«Só conseguem subir de cargo despidas».
São as insónias de querermos ser perfeitas,
É perdoar o impróprio,
É a dor a que somos sujeitas
Em busca do suposto amor próprio.
É agradecer em demasia
E pedir desculpa ainda mais.
É sermos insuficientes e desiguais,
Até nos mundos de fantasia.
É sermos reduzidas
A um mero naco.
É sairmos produzidas
E sermos assediadas (mesmo de casaco).
É querer ser protegida por uns iguais aos outros.
Ser mulher
É ser objeto de estudo.
É viver uma jornada.
É encontrar o significado para tudo
E dar sentido ao nada.
Inês Ribeiro
Editado por: Rita Magalhães e Matilde Mala
Inês Ribeiro
ela/dela
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