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  • Foto do escritorCarolina Franco

Pássaro, ele chamou-me

Pássaro, ele chamou-me, então eu voei para os seus braços.

Borboleta, ele chamou-me, então eu colori a sua vida. 

Girassol, ele chamou-me, então eu segui a sua luz.

Tempestade, ele chamou-me, então eu entrei no saco.*

Incêndio, ele chamou-me, então eu aqueci-o.

Mar, ele chamou-me, então eu seduzi os ventos.**


Pássaro, ele chamou-me, e depois prendeu-me numa gaiola.

Borboleta, ele chamou-me, e depois emoldurou-me na sua parede.

Girassol, ele chamou-me, e depois escondeu-se por trás das nuvens.

Tempestade, ele chamou-me, e depois procurou controlá-la. 

Incêndio, ele chamou-me, e depois afogou-me nas minhas chamas.

Mar, ele chamou-me, e depois envenenou as minhas águas. 


Tudo o que ele oferecia, ele tirava, e muito mais.

No entanto, ao cair da noite, olhei-o nos olhos e confessei-lhe o meu amor. 



*Referência à Odisseia de Homero, onde Éolo dá a Odisseu um saco onde os ventos desfavoráveis estão confinados.


**Referência a Os Lusíadas de Luís de Camões, quando as ninfas seduzem os ventos a pedido de Afrodite, numa tentativa de acalmar a tempestade para que os marinheiros lusos possam chegar ao seu destino.

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