top of page

Natural Liberdade

Clara de Freitas

Editado por: Catarina Casal



Sinto conforto quando me lembro que o jardim no meu quintal continuará a ser jardim mesmo após a minha morte — apenas não será o meu quintal. Que coisa intocável, a propriedade, cuja insignificância é tanta ou mais que a minha. A árvore em frente à minha casa não morrerá quando o ritmo certo do meu coração estagnar. Dentro da sua madeira forte e útil continuará a correr seiva e, no meu corpo fraco e sem propósito, o sangue irá apodrecer. 


Após a minha morte pouco trágica, o jardim no meu quintal irá crescer selvagem. Não será mais limitado pelos meus gostos empobrecidos, fruto da ignorância que me rodeia. O jardim será finalmente natureza. Quando se der a minha morte, que poucos chorarão, o meu jardim não irá chorar. Perante a minha subida até aos astros, quando me juntar a quem já foi, talvez os céus chorem, talvez reguem o meu jardim. Sem luto, o jardim irá recuperar a forma ideal, a forma natural. Quando a atingir, já serei um estranho fóssil, com bizarras raízes calcificadas pelas quais nada se alimenta. Do meu corpo nada crescerá. Da minha morte crescerá a natural liberdade. Da minha alma talvez crescerá arte.


1 visualização0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

E quando as luzes se apagam

Editado por: Mariana Lameiro E quando as luzes se apagam E a noite chega: Acendem-se mil e uma estrelas E a lua sorri materna. Sonho com...

And when the lights go out

Translator: Laura Prezzi And when the lights go out And the night comes: A thousand and one stars light up And the moon smiles...

Weeping streams in the river

Translator: Sara Sachetti Fernandes What we have lived and what is yet to be lived, which persists in permanently accompanying us. I...

Commentaires


bottom of page