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Lourenço Marques

  • Foto do escritor: Jornal O Cola
    Jornal O Cola
  • 23 de set. de 2023
  • 2 min de leitura

Por Carolina Franco

Traduzido por Laura Gouveia



Lourenço Marques é um campo de narcisos.

O coração de Moçambique,

A capital que te acolheu,

Que te deu um lar,

Uma oportunidade de vida.

Valeu a pena cada segundo,

Nunca te arrependeste.


Lourenço Marques é uma musa

Nos olhos de um poeta

Que escreve sob constelações.

Um poema contado na calada da noite,

Para a lua e os mochos ouvirem.

A vida selvagem noturna,

Vivendo no silêncio da sua própria existência.


Lourenço Marques é o sonho.

Subiste os degraus da catedral,

Um vestido branco tão lindo

Que os transeuntes não podiam deixar de olhar,

O amor da tua vida à espera no altar,

Um ramo de flores nas tuas mãos,

Eras mais feliz que alguma vez tinhas sido.


Lourenço Marques é a Pátria.

Para onde foste em busca de conforto,

Onde tiveste os teus filhos,

Longe de Portugal,

Tão perto e ao mesmo tempo tão longe,

Mas com uma família como nenhuma outra,

Prosperaste como nunca.


Lourenço Marques é tristeza.

Quando foste obrigada a regressar a Portugal,

Após a Revolução que mudou o nosso país

E transformou os cravos num símbolo nacional,

Tirando-te tudo,

Todo o teu trabalho árduo considerado irrelevante,

E obrigando-te a começar de novo.


Lourenço Marques é o teu paraíso.

As fotografias não lhe fazem justiça.

Partilhas as suas histórias,

Memórias eternas e inabaláveis.

Recordas durante dias a fio,

Nunca esquecendo, sempre ansiando,

Até ao dia da tua morte.


Lourenço Marques é desejar.

Sentada à volta de uma mesa,

A conversar e a beber,

A olhar para as estrelas

E vê-las arder

A cada respiração que dás,

Cada uma mais dolorosa que a outra.


Lourenço Marques é recordar.

Telefonar a velhos amigos,

Juntar-se a grupos do Facebook,

Para sentires que pertences.

Os tempos mudaram,

Agora chama-se Maputo,

Detestas o nome.


Lourenço Marques é saudade.

É saber que não podes voltar atrás,

Mesmo depois de perderes o teu marido,

Veres os teus filhos voar para longe,

Sentires-te abandonada,

Longe da tua cidade,

E da tua devoção resoluta.


Lourenço Marques é voar.

Como uma borboleta migra,

Para locais onde passar o inverno,

Levando o teu coração com ela.

Como um mártir pede desculpa

Ao mundo apenas por existir,

Tu pedes desculpa por te teres traído a ti própria.


 
 
 

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