Quando me propus a escrever um texto sobre o Dia do Pai, não sabia ainda bem como é que isto ia sair. Não queria estar a escrever um texto como todos os outros, afinal, posso não ter a originalidade de José Saramago, mas acredito ter uma dose considerável de criatividade. O problema surgiu quando me lembrei que é difícil evitar o cliché quando estamos a falar de uma celebração anual que surgiu em 1909. Isso são muitos dias do pai com que competir. De qualquer forma, pus as mãos na massa e criei este documento.
A inspiração para escrever esta dedicatória aos pais que merecem esse título surgiu enquanto eu ponderava o que é que ia comprar ao meu pai este ano – o que é sempre um dilema para mim. Não sei quanto aos vossos, mas o meu pai simplesmente compra o que ele quer, e o que ele não compra, provavelmente está fora do meu extremamente modesto orçamento de universitária desempregada. E foi assim que se fez luz na minha cabeça. Se há uma coisa de que os pais costumam gostar, é uma boa dose de nostalgia, então voltar às origens pareceu-me uma boa ideia. Quando era pequena, costumava escrever cartas cheias de erros ortográficos e dava-as como prenda de Natal, de aniversário, de tudo e mais alguma coisa. Eram manhosas e ingénuas, mas existe uma coisa chamada carga emocional, o que aparentemente torna uma carta mal escrita e com letra feia numa obra de arte melhor do que as de Mozart. Então aqui estou, a fazer uma espécie de carta aberta aos pais por aí fora, mas em especial ao meu.
Conheci o meu pai no dia 28 de outubro de 2003 (ou seja, no dia em que nasci). Era outono, por volta da 1 da manhã, e eu estava aos berros nos primeiros segundos do nosso encontro. Não foi o meu momento mais digno, mas acontece a todos. Entretanto, já se passaram 20 anos e uma das coisas que mais me fascina é que o meu pai trata-me da mesma forma desde que eu me lembro de ser gente. Eu acho que, aos olhos dele, não passei dos 10. Isso, claro, excluindo política, já que isso é um caso à parte, e a nossa sorte é que somos pelos mesmos partidos – ou a coisa ficaria feia.
Voltando ao foco dos 20 anos. Estas duas décadas foram cheias de aprendizado, de educação, de admiração. O meu pai sempre foi muito insistente e aberto nos valores que me queria passar e entre eles estão alguns que admiro imenso. Ele ensinou-me que, se quero algo, eu consigo tê-lo; a lutar pelos meus sonhos e a ignorar as opiniões alheias; a nunca me aproveitar do trabalho do outro; a respeitar tudo e todos e que, se às vezes as coisas correm mal, eu posso melhorar da próxima vez, o que importa é que eu dê o meu melhor. Isso são uns exemplos de que me lembro assim de repente, mas há muitos mais de onde esses vieram. O meu pai educou-me para que olhasse para ele e conseguisse ver um porto seguro, longe da guerra e caos que a vida naturalmente traz, longe da ansiedade e dos obstáculos no meu caminho. Pensem numa área de serviço onde se para a meio de uma viagem longa, onde se bebe um café, onde se apanha ar (e eu podia dizer onde se vai à casa de banho, mas isso tira o charme à metáfora). Assim ele foi, assim ele é, e assim ele será.
O meu pai adora apoiar tudo o que eu faço e o meu percurso no Jornal não é exceção. Quando me juntei, ele ficou mais que feliz que eu ia partilhar a minha “mente brilhante” com outras pessoas. Quando me candidatei a Representante de Jornalismo, o que eu sou até hoje, ele disse-me de 30 formas diferentes como estava orgulhoso de mim. Caso vocês não saibam, ele lê quase todos os meus textos antes de eu os publicar no site ou na edição física – este é a única exceção, por motivos óbvios. Ainda assim, ele compra duas versões de todas as edições do Jornal, sem falhar. Já lhe tentei oferecer uma, uma vez, e ele mandou-me o dinheiro por MBWay e disse-me para “deixar de ser parva”. Digam-me lá que isso não é o tipo de apoio que toda a gente devia ter na sua vida? Depois chamam-me “menina do papá” e ficam surpresos quando eu concordo. Com um pai assim, vou ser menina do papá até ter 80 anos e com muito orgulho. Tendo isto tudo em conta, uma boa maneira de honrar o Dia do Pai de 2024 é escrevendo este texto. E prometo que não é uma desculpa esfarrapada para não lhe comprar alguma coisa - eu só tenho o bichinho da escrita no cérebro e pouco dinheiro.
Não existe declaração no mundo em que eu consiga exprimir o amor que eu tenho pelo meu pai, mas espero que estas escassas palavras sejam suficientes para lhe mostrar que a minha intenção é honesta. Eu nunca duvidei que se o meu pai me pudesse dar o mundo, ele dava; que se ele pudesse apanhar a estrela mais brilhante do céu, ele apanhava; que se ele pudesse trazer a Atlântida ao cimo só para eu ir visitar, ele traria. E ele não pode fazer nenhuma dessas coisas, mas ainda assim tudo o que eu acabei de descrever não chega aos pés do que ele realmente fez. Não existem palavras no vocabulário que me permitam descrever o que é ser pai. No entanto, cá estou eu, a dar o meu melhor, a empenhar-me apesar de estar a trabalhar com o impossível. Se me perguntarem porquê, a resposta é simples: o meu pai ensinou-me a tentar, ensinou-me a levantar quando eu inevitavelmente falhar e ensinou-me a não desistir.
A todos os pais do mundo que, tal como o meu, foram incansáveis e fizeram de tudo para ver os vossos filhos crescer, este dia é vosso.
Ao meu pai, a quem eu daria o universo, o céu e o mar, se assim me fosse possível, não há mais que eu possa dizer senão o mais sincero obrigada. Pela vida, saúde, paciência, carinho, amor, dedicação, entre muitos outros, eu estou mais grata do que alguma vez poderia exprimir em palavras. Da tua filha que te ama mais do que tudo neste mundo e arredores, obrigada.
Feliz Dia do Pai.
Editado por Inês Cândido
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