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Maria Moiteira

O Nosso Último Beijo

Aviso: referência a suicídio e automutilação

Nota: ler ao som de Ceilings, de Lizzy McAlpine.


Ali, com a Eva, o Chris sentia-se em paz. Já há duas horas que estavam sentados naquele velho banco de madeira. A Eva tinha sido aceite em Juilliard e o Chris tinha finalmente saído da sua casa abusiva. A vida estava lentamente a melhorar. Ele olhou para a Eva e admirou a suas bochechas e os seus lábios cheios. Beijou cada uma das sardas na cara dela e o seu coração aqueceu quando deixou mais um beijo nos seus lábios. O Chris não estava preocupado com a chuva que começava a encher os seus sapatos de água porque ela estava ali e, enquanto a Eva ali estivesse, ele estava bem.

— Sabes que temos um chapéu. Não há necessidade de estares à chuva, — disse a Eva enquanto o tentava pôr debaixo do chapéu de chuva. O seu riso era tão precioso. 

— Eu amo-te. Sabes disso, certo? Não acho que alguma vez me poderia apaixonar por outra pessoa. Eva, tu és a minha casa, — disse o Chris com os olhos cobertos de lágrimas honestas. Eva beijou-o, grata pelas suas queridas palavras.

A chuva intensificou-se enquanto andavam até ao carro do Chris. Ele abriu a porta para Eva e aproveitou para admirar os seus pulsos, sempre cobertos de pedaços de tinta, demasiado teimoso para a deixar ir. Ela era bonita. Chegava a ser difícil para o Chris acreditar que ela era real. Ele percorreu o seu cabelo ruivo com os dedos e sorriu. Falaram sobre a noite em que se conheceram. Tinha sido dois anos antes, quando o Chris encontrou a Eva a chorar desesperadamente; a segurar o seu pequeno corpo à medida que as lágrimas lhe escorriam pela cara. O Chris não tinha planeado ficar tanto tempo na festa, mas quando a viu naquele estado soube que não tinha hipótese. Ele tinha de ficar.

— Lembras-te do café a que costumávamos ir? Tentei tanto convencer-me que era o melhor café, mas a única razão por que lá fui foste tu, — ele sorriu. Depois da festa começaram a sair todos os dias e não demorou muito tempo até que os caramel macchiatos fossem substituídos por escapadelas a casa da Eva, beijos e sonhos duradouros.

— Um dia serei o maior artista do mundo, e depois, quando for famoso o suficiente, vou trocar tudo pela nossa vida numa caravana, a viajar pelo mundo contigo e o nosso gato preto! Acho que Jack seria um bom nome para ele, o que achas? — ela perguntou de mão dada com o Chris enquanto ele estacionava o carro à frente da casa dele. O seu coração batia a mil. Ele amava-a tanto que era irreal. Mas ele já sabia o que se avizinhava. Ele reconhecia o sentimento agridoce no seu beijo de despedida.

— Por favor, não vás…, — ele pediu com lágrimas a começar a escorrer pelas suas bochechas, enquanto tremia e o sentimento caloroso era trocado pela dor insuportável a que já estava habituado.

— Tens de me deixar ir, Chris. Isto não é real, — disse Eva à medida que Chris olhava para o lugar vazio a seu lado e se ia abaixo.

Deitado na sua cama, na mesma velha casa, repleta com os mesmo gritos e berros, o Chris ouvia as mesmas notícias cruéis agarrado ao seu gato, Jack.

Vai fazer um ano desde que Eva Matthews, de dezanove anos, se suicidou. Familiares e habitantes locais continuam a lamentar a sua morte. 


Traduzido por Sara Fernandes

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