Por Carolina Franco
Traduzido por Laura Gouveia
Lourenço Marques é um campo de narcisos.
O coração de Moçambique,
A capital que te acolheu,
Que te deu um lar,
Uma oportunidade de vida.
Valeu a pena cada segundo,
Nunca te arrependeste.
Lourenço Marques é uma musa
Nos olhos de um poeta
Que escreve sob constelações.
Um poema contado na calada da noite,
Para a lua e os mochos ouvirem.
A vida selvagem noturna,
Vivendo no silêncio da sua própria existência.
Lourenço Marques é o sonho.
Subiste os degraus da catedral,
Um vestido branco tão lindo
Que os transeuntes não podiam deixar de olhar,
O amor da tua vida à espera no altar,
Um ramo de flores nas tuas mãos,
Eras mais feliz que alguma vez tinhas sido.
Lourenço Marques é a Pátria.
Para onde foste em busca de conforto,
Onde tiveste os teus filhos,
Longe de Portugal,
Tão perto e ao mesmo tempo tão longe,
Mas com uma família como nenhuma outra,
Prosperaste como nunca.
Lourenço Marques é tristeza.
Quando foste obrigada a regressar a Portugal,
Após a Revolução que mudou o nosso país
E transformou os cravos num símbolo nacional,
Tirando-te tudo,
Todo o teu trabalho árduo considerado irrelevante,
E obrigando-te a começar de novo.
Lourenço Marques é o teu paraíso.
As fotografias não lhe fazem justiça.
Partilhas as suas histórias,
Memórias eternas e inabaláveis.
Recordas durante dias a fio,
Nunca esquecendo, sempre ansiando,
Até ao dia da tua morte.
Lourenço Marques é desejar.
Sentada à volta de uma mesa,
A conversar e a beber,
A olhar para as estrelas
E vê-las arder
A cada respiração que dás,
Cada uma mais dolorosa que a outra.
Lourenço Marques é recordar.
Telefonar a velhos amigos,
Juntar-se a grupos do Facebook,
Para sentires que pertences.
Os tempos mudaram,
Agora chama-se Maputo,
Detestas o nome.
Lourenço Marques é saudade.
É saber que não podes voltar atrás,
Mesmo depois de perderes o teu marido,
Veres os teus filhos voar para longe,
Sentires-te abandonada,
Longe da tua cidade,
E da tua devoção resoluta.
Lourenço Marques é voar.
Como uma borboleta migra,
Para locais onde passar o inverno,
Levando o teu coração com ela.
Como um mártir pede desculpa
Ao mundo apenas por existir,
Tu pedes desculpa por te teres traído a ti própria.
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