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A minha experiência de «Aprende a minha Anatomia»  

  • Henrique Murta
  • 1 de jun. de 2024
  • 3 min de leitura

Título: Aprende a minha Anatomia 

Texto: Aprende a minha Anatomia, baseado no filme Sharknado 5: Global Swarming

Autor do texto: A’Otorpre Tenciosso

Dramaturgia: Nômine Ventado, Ies Tetambem

Encenação: Nômine Ventado

Produção: Ricardo Marujo Pedreira – TetraTeatro

Interpretação: Nômine Ventado Jr.

Espetáculo assistido a: 29/01/2024, no Centro Cultural de Belém


Aprende a minha Anatomia, de Nômine Ventado, é uma peça que se planta no nosso consciente de forma direta e simples, como uma doença sexualmente transmissível. Mas, ao contrário de uma doença sexualmente transmissível, esta não deixa na sua vítima uma marca significativa.


A peça, que toma lugar num armazém mal iluminado, é caracterizada pela abstração dos cenários, da narrativa, do som, e do vestuário da intérprete. Tudo começa com a única protagonista, Persuná Jempre Tenciossa, interpretada por Nômine Ventado Jr., a discursar para a audiência numa quebra imediata da quarta parede. O discurso é centrado no facto de Persuná ter intencionalmente ganho quatro competições nacionais de Maior Nariz, e acidentalmente uma competição regional. Pouco se segue da narrativa e menos se percebe da sua estrutura, se esta última for de facto existente em primeiro lugar, dado que o segundo ponto discursivo da peça é algo completamente desconectado do primeiro: manteiga. É de notar que durante as primeiras sete horas e vinte-e-dois minutos da peça, o cenário mantém-se um simples armazém vazio e iluminado apenas por sinais néon, os quais leem «natureza», «morte», «consentimento» e «sapataria». Por momentos um segundo indivíduo entra em cena mas, numa ação bizarra, a qual até hoje questiono ter sido intencional ou não, é expulso pelos seguranças do recinto. 


A intermissão garantida após sete horas e vinte-e-dois minutos seria devidamente apreciada se não se tratasse verdadeiramente de uma armadilha para os menos atentos, visto que a intérprete Nômine Ventado Jr. faz questão de entrar na única casa de banho, assumo que através de alçapões e túneis subterrâneos, para assustar os utentes desprevenidos com um violento esguicho de mostarda Hellmann’s, direta do pacote. Resumida a breve intermissão, seguem-se quatro horas e treze minutos de canção sussurrada pela intérprete num palco ligeiramente diferente: um armazém bem iluminado. O pouco que se houve das canções sussurradas é suficiente para suscitar diversas emoções, entre elas: medo, horror, terror, ansiedade, nojo, raiva e um pouco de fome. A sensação de responsabilidade é, no entanto, a que se apodera da audiência durante este segmento, especificamente a responsabilidade de observar atentamente a peça sem o mínimo desvio de foco, visto que Nômine Ventado Jr. ameaça agredir todos os membros do público se não tiverem um desempenho aceitável no quiz sobre a peça a ser distribuído perto do final.  


Acabadas as onze horas e trinta-e-cinco minutos de peça, sem contar com a breve intermissão e o quiz final, a intérprete levanta-se e aplaude o público à medida que este diminui em densidade com a saída apressada e decisiva dos seus componentes. Será o armazém vazio, pontuado apenas pela presença errónea da intérprete, uma reflexão do espírito moderno delimitado pela urbanidade? Serão os sinais néon a representação da pouca esperança que guardamos no nosso subconsciente, ao alto e quase fora de vista? Porque é que ela falou de manteiga? Ao tentar entrevistar a intérprete no exterior do recinto ela assaltou-me com um garfo peculiarmente afiado e levou-me a carteira, mas apenas a carteira, tendo deixado o dinheiro e os cartões que estavam lá dentro espalhados pelo chão.


Não percebi nada da peça, e é mesmo por isso que percebi tudo. 7/10.


Editado por Inês Cândido

 
 
 

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